Capoeira e Graduacões (Surgimento, importância e discordâncias).


Capoeira e Graduações (Surgimento, importância e discordâncias).

O sistema de graduação tem por objectivo definir o trajecto com também, grau de aprendizagem do aluno, promovendo de forma simbólica o caminho percorrido por este e, estimulando ou até mesmo criando objectivos de aprendizagem. A avaliação rigorosa do Mestre durante o seu crescimento é de extrema relevância.
O chamado batismo e formatura de capoeira, ou entrega e troca de graduação, é o momento no qual o praticante recebe a sua primeira corda (cordel) ou está a passar de estágio. O primeiro sistema de graduação utilizado, foi o da Capoera Regional, de Mestre Bimba, que criou as cerimónias de batismo e formatura.
No entanto, nos dias de hoje são muitos os tipos de graduações adoptadas pelos grupos de capoeira, algumas graduações são regularizadas através de federações estaduais, ou pela própria Federação Brasileira, existindo ainda, as confederações, associações, ligas, e grupos independentes, que adoptam sistemas diversos, baseados em diferentes cores.
A nova visão da capoeira como desporto, criou também a necessidade de avaliar a capacidade entre dois atletas, pois para a realização de um campeonato, para além do peso, deve-se ter em consideração o grau de conhecimento do atleta, sendo este definido pela sua graduação. Muita da discordância existente em relação ao sistema de graduação, parte primeiramente da diferença de ponto de vista dos mestres, e da não esistência de um sistema único de avaliação, devido à diversidade de estilos.



Sistema de graduação moderno:

O estilo Senna ou capoeira estilizada, criada pelo conhecido Mestre Senavox, ex-aluno de Mestre Bimba, com base nas artes marciais orientais, escolheu o cordão de cores diferentes, como forma de distinguir as categorias de atletas, sendo esta forma adotada por quase todos os grupos actuais. O que na verdade diferencia as cordas ou cordeis, são as cores, alguns grupos utilizam as cores referentes aos orixás (Iemanjá, Xangô, Oxossi, Oxum, Iansã, Ogum, Oxalá), tendo como sequência de cores o
azul, marrom, verde, amarela, roxa, vermelha e branca, existindo ainda as cordas "quebradas"(intermédias), que possuem metade de uma cor, representando a graduação anterior, e a outra metade, representando a posterior.


Outros grupos, ainda adoptam o sistema baseado nas cores da bandeira brasileira, criado pela Federação Brasileira de Capoeira, tendo como sequencia a corda verde, amarela, azul, verde-amarela, azul-verde, amarela-azul, verde-azul-amarela, branca-verde, branca-amarela, branca-azul e por fim a branca. Seria quase que interminável a lista de tipos de graduações, ficando esta tarefa para trabalho futuro.


Sistema de graduação da Capoeira Regional:

Adoptando a tradição dos antigos capoeiristas, a Regional utilizava os lenços feitos de seda. Durante a sua passagem pela academia de Mestre Bimba, o aluno só recebia a sua graduação, aquando da formatura, tendo o direito de usar um lenço azul; passando pelo famoso curso de especialização, recebia o lenço vermelho, já o lenço verde simbolizava a sua capacidade como tocador de berimbau, mantendo o grau de instrutor, o lenço era azul, quando "contramestre", o lenço amarelo fazia parte da sua idumentária, e finalmente, quando
elevado a categoria de Mestre, tinha o direito de utilizar um lenço branco, com o símbolo de São Salomão, bordado em verde num dos cantos.


Sistema de graduação da Capoeira Angola:

Antigamente, o reconhecimento dos Mestre era dado pela própria comunidade, fazendo com que seu valor fosse reconhecido pelo seu tempo, trabalho e respeito adquirido perante a conunidade.
Desta forma, a conhecida Capoeira Angola, não costuma utilizar o sistema de cordas ou cordel, nem tão pouco os lenços, como referência hierárquica, existindo sim, uma trajectória de seus praticantes, que passam de aluno para Contra-Mestre, formando-se em seguida Mestre, podendo ainda, noutros grupos existir a definição de, aluno, treinel, Contra Mestre e Mestre. No entanto, vale a pena salientar que, apesar de parecer curto este trajecto, cada uma
destas mudanças equivalem a um período muito longo de tempo e trabalho, o que leva toda uma vida de aprendizagem.


Problemática actual do sistema de graduação:

1) O aluno entra na academia e quer logo saber em quanto tempo irá ser Mestre, deparando-se com toda exigência, tempo e trabalho necessário para alcançar este objectivo, desiste ou então muda de grupo à procura de uma promoção mais rápida.

2) Devido à grande variação de graduações, uma mesma cor, pode representar graus de evolução diferentes, fazendo com que muitas vezes existam conflitos nas rodas, pois o mais graduado acha, de forma errada, que tem a qualquer custo auto-afirmar-se perante o outro capoeira da mesma graduação, e o menos graduado, não entendendo a atitude do seu igual, não aceita ficar para trás, e de forma, muitas vezes inconsciente, passa a utilizar-se um jogo pouco técnico e mais violento, tudo isto só por pensarem que têm a mesma graduação.

3) O mau uso da graduação, pode levar a situações em que o capoeirista que tem mais tempo de prática, utilize a hierarquia para a satisfação própria do seu orgulho, esquecendo-se que o respeito conquista-se, e não se impõe, e que humildade e respeito não significa submissão.

Essas são apenas algumas das problemáticas do sistema de graduação, no entanto, quando se prepara o aluno da cabeça aos pés, diminui-se o risco de problemas como estes, pois o mais importante é fazer da capoeira uma ferramenta para educar e socializar o indivíduo. O Grupo Capoeira Alto Astral, utiliza de forma satisfatória este sistema, podendo os interessados obter mais informações no nosso Regulamento Interno.

Pelo C. Mestre MArco Antonio.

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